quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mais artigos sobre blogs




Encontrei no blog Este blog é minha rua, do Franz Kreuther, vale a leitura.


Antes do advento da Internet havia no mundo dois tipos de pessoas: os que detinham a informação, e por isso transmitiam seu discurso sem interferências nem contestações, e os que simplesmente escutavam. No mundo contemporâneo continua existindo esses dois tipos, porém surgiu uma nova categoria. Assim temos hoje três tipos de indivíduos compondo a sociedade pós-moderna: aqueles que têm algo a dizer e dizem; os que embora não podendo controlar a conversa querem ao menos participar dela e os que, ou por não saber o que dizer ou por não ter como dizer, continuam apenas escutando.

Contudo, a cada dia milhares de pessoas constroem ecosistemas sociais e profissionais baseado em redes de interação online, e se movem nele buscando interpretar suas relações e entender suas tendências. E agindo assim se tornam mais transparentes e mais acessíveis. Esses ecosistemas informativos possibilitam a essas pessoas realizarem descobertas que podem mudar suas vidas, por exemplo: descobrem que tem voz, descobrem que toda pessoa tem o que dizer para outra e que qualquer um pode ser ouvido; descobrem que a comunicação não é uma via de mão única e que o receptor pode se tornar emissor, e vice-versa. Os blogs Antigamente, apenas os jornalistas, os radialistas e comunicadores podiam ocupar o posto do Grilo Falante, ou seja, a consciência falante da comunidade. Era a hegemonia do 4º Poder.

Atualmente, com os blogs, todos descobriram que têm coisas para dizer. Todos querem expressar suas idéias e informar, todos querem opinar sobre tudo. Há milhões e milhões de vozes na Web que buscam ser ouvidas e tocar corações e mentes. Segundo dados do Ibope/NetRatings, “o número de usuários brasileiros que lêem blogs atingiu 10 milhões de pessoas em fevereiro de 2008.(...) Em dezembro do ano passado, eram 9,6 mihões de brasileiros que acessavam blogs". Ainda segundo o NetRatings, o “Brasil manteve sua posição como país com maior tempo médio mensal de navegação residencial por internauta, com 22h24. A lista de países monitorados pelo Nielsen/Netratings inclui Estados Unidos, com 19h52, a França, com 19h40, o Japão, com 18h29 e o Reino Unido, com 17h46”. Esses dados revelam que quando um internauta visita um blog e se depara com uma postagem que o interessa, tende a querer deixar seu comentário. E um dia, mais cedo ou mais tarde, acabará por se tornar um blogueiro.

Mas ser blogueiro não é apenas escrever num blog, é fundamentalmente LER blogs. Isso porque para escrever é necessário antes de tudo gostar de ler. E sabemos que quanto melhor o indivíduo lê, melhor ele escreve. E você, blogueiro amigo, não se iluda, pois aquilo que escreve em seu blog diz muito mais sobre você que seu Currículo Vitae, e pode revelar aspectos de sua personalidade, tais como atenção a detalhes e pormenores, habilidade auto-expressiva e senso crítico, que podem servir de elementos seletivos na hora de concorrer a uma vaga no mercado de trabalho. E qualquer dia, nos currículos enviados às empresas, os candidatos colocarão ao lado do endereço de e-mail (hoje praticamente obrigatório) o endereço de seu blog.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Benefícios educacionais dos blogs


Blogs oferecem muitas possibilidades para utilização em processos educativos. Por exemplo, para incentivar os alunos a: escrever, compartilhar idéias, trabalho em equipe, design, exibir um instantâneo do que eles produzem, e assim por diante. A criação de blogues pelos alunos dos professores dá a opção de exigir processos de síntese, pois escrito na Internet devem ser oportunas e precisas, os tópicos abordados.

Os professores podem usar blogs para se aproximar mais dos alunos em novas formas, sem ter que limitar a sua interacção exclusivamente para a sala de aula. Por exemplo, a publicação de materiais e permitir um acesso imediato a informações ou recursos para realizar projetos e atividades para a sala de aula, otimizando o tempo. Ele também oferece aos alunos a oportunidade de melhorar o conteúdo acadêmico, enriquecendo-a com elementos multimédia, tais como vídeos, sons, imagens, animações e outros Web 2.0.

A facilidade com que são criados e alimentados Blog torna-os muito marcante, porque graças à assistentes e templates (modelos) predesigned, não devemos concentrar-se na execução técnica, mas sobre os conteúdos e materiais para publicar. Isso permite que qualquer professor ou aluno, independentemente da área acadêmica, pode gerar recursos e conteúdos de temas educativos, sem ter que instalar as aplicações ou ter conhecimento de programação.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Leitura


Encontrei este artigo no blog Caldeirão de idéias, e peço licença ao Robson Garcia Freire para postá-lo aqui. Como iniciei mais um curso na área de alfabetização, andei fazendo umas pesquisas e achei maravilhosa a publicação. Bem a tempo e a hora.

Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de “alfabeto“. “Alfabeto“ é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que “abecedário“. A palavra “alfabeto“ é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: “alfa“ e “beta“. E “abecedário“, com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: “a“, “b“, “c“ e “d“.

Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que “abecedarizar“, palavra inexistente, pudesse ser sinônima de “alfabetizar“...“Alfabetizar“, palavra aparentemente inocente, contém uma teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...E assim era.

Lembro-me da criançada repetindo em coro, sob a regência da professora: “be a ba; be e be; be i bi; be o bo; be u bu“... Estou olhando para um cartão postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redação: uma menina cacheada, deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê “fa“, “fe“, “fi“, “fo“, “fu“... (Centro de Referência do Professor, Centro de Memória, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG.)

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música deveria se chamar “dorremizar“: aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...Todo mundo sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar. E o nenezinho entende a canção. O que o nenezinho ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no fato de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas!

Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: minha mãe as tocava ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isso é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ – sim, erotizada! – pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.

No primeiro momento as delícias do texto se encontram na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de ler para os seus alunos, é o “seio bom“, o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas me lembro com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professor lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos extasiados. Ninguém falava.

Antes de ler Monteiro Lobato, eu o ouvi. E o bom era que não havia provas sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, lendo para o filho...

Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afetiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas daquele mundo maravilhoso! Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem: continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: “Por favor, me ensine! Eu quero poder entrar no livro por conta própria...

“Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada!

Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.

Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista.

Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...

Aperitivos 1. “Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler. É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“ (Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).2. A menininha de 9 anos me explicou como as crianças na sua escola aprendiam a ler: “Aqui na Escola da Ponte não aprendemos letras e silabas. Só aprendemos totalidades...“3. Os compositores colocam em suas partituras indicações para orientar o intérprete: lento, presto, adagio, alegretto, forte, piano, ralentando. Os escritores deveriam fazer o mesmo com seus textos. Há textos que devem ser lidos lentamente, expressivamente, tristemente. Outros que exigem leveza, rapidez, riso. O leitor experiente não precisa dessas indicações. Mas elas poderiam ajudar os principiantes.4. “Mais valem dois marimbondos voando que um na mão“ (Almanak do Aluá).5. Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém“. Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?


"Publicado no Correio Popular, Caderno C, 19/07/2001."